O resultado das eleições abre um novo período de gestão municipal que
começa em janeiro. A sensação que dá, tendo participado e acompanhado as
campanha eleitorais, é de que a questão da democracia foi deixada de lado na
campanha para o executivo; nenhum dos 5 candidatos colocou o tema da
democratização da GESTÃO, da DESCENTRALIZAÇÃO da GESTÃO, da PARTICIPAÇÃO
CIDADÃ, como eixo fundamental de sua campanha. É como se as soluções
tecnocráticas prevalecessem e os “bons” governantes fossem a solução. Chegamos mesmo a assistir nesta gestão que termina nas
principais cidades do país - São Paulo e Rio de Janeiro - a iniciativas que
apontam para a militarização da gestão pública. No Rio de Janeiro, a “pacificação"
dos morros pela ocupação militar, o modelo UPPs. Em São Paulo, a escolha de
coronéis aposentados da PM para atuarem como subprefeitos. É impressionante
como os temas da democracia e da participação cidadã sumiram da agenda
pública.
No nosso caso está colocado um
desafio para a sociedade e para o próximo governante. Democracia e participação
cidadã a única via para lutar por cidades
justas, democráticas e sustentáveis, para enfrentar as desigualdades sociais gritantes, reorientar as políticas públicas e melhora a vida de todos, garantindo
direito à cidade. Ou a gestão se democratiza,
ou é capturada pelos interesses
corporativos.
E há toda uma história de lutas sociais, de mobilizações, que
trouxeram grandes ganhos para a administração pública e para a população. Basta
dizer que o SUS, nosso Sistema Único de Saúde, considerado referência mundial
por seu trabalho, é fruto do movimento de saúde. Sua qualidade e sua eficiência
são fiscalizadas pelos Conselhos de Saúde, e a política é avaliada por
conferências municipais, estaduais e nacionais a cada dois anos. Dezenas de
milhares de pessoas participam desses processos.
Mas há toda uma política tradicional a enfrentar. Como promover um
projeto de democratização e participação se a lógica da política é lotear entre os aliados no nosso caso as secretarias
para que eles, em cada uma delas, possam
tirar proveito político do cargo que ocupam? Como promover um projeto de
democratização e participação se vereadores
eleitos por cores e ideologias partidárias vendem-se aos gestores por um misero
punhado de real ou trocam seu mandato dado a esses pelo povo para representa-lo
por empregos para a parentada e correligionários que o apoiaram? Como
promover um projeto de democratização e participação se os eleitores necessitados também vendem ou trocam seu voto agora não
mais por farinha ou açaí e colocam como legisladores e fiscalizadores nas casas
de leis pessoas sem preparo para a vida publica pois desconhecem ou não
compreendem os meandros da gestão? Nosso município passa por esse transtorno? A
agenda da reforma política não pode se limitar à luta pelo financiamento
público das campanhas eleitorais, ainda que isso seja essencial.
Descentralizar o governo das cidades e criar mecanismos inovadores de
gestão e participação cidadã é um projeto politico de socialização do poder, de
inclusão social e de aumento da eficiência na prestação dos serviços públicos. Significa romper com o controle político
das elites locais e com as formas burocráticas,
corruptas e clientelistas de governar; significa mudar o desenho das
instituições e seu funcionamento, para
impulsionar um processo de mudanças sociais e atender às múltiplas dinâmicas da
sociedade.
A descentralização e a democratização da gestão municipal inauguram
uma aproximação do governo com a sociedade, um novo olhar dos gestores para
reconhecer as particularidades das relações da cidadania com seus territórios,
a configuração dos espaços urbanos, suas tendências econômicas, suas novas
centralidades regionais, suas dinâmicas sociais e culturais. Mais do que tudo,
permitem recuperar a capacidade de
intervenção dos cidadãos enquanto atores coletivos e do poder público como regulador da vida social, capaz de
impulsionar processos de negociação entre os distintos atores e forças sociais presentes nas cidades.
O significado do projeto de descentralização
e participação é garantir a
reapropriação da cidade por seus cidadãos; criar novos territórios públicos de
construção da cidadania; impulsionar novas formas
de sociabilidade e uma nova cultura
politica assentada em solidariedade,
justiça social, equidade, fortalecimento da sociedade civil, participação,
autonomia, respeito e garantia dos direitos pessoais.
Todos os novos prefeitos e o nosso em especial, tem o desafio de
garantir o apoio da sociedade à sua gestão. Descentralizar e abrir o
governo à participação cidadã é um
meio de garantir mais acertos e
dividir os erros. O povo quer
mudança, quer sentir que este novo governo é SEU.
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