Ronaldo
Campelo*
A organização de uma
sociedade depende do nível de atuação e consciência do seu povo, também nos
lembremos do inconsciente coletivo que determina a participação das massas nos
processos de transformação social. Estas possibilidades desvendam um universo
até então desconhecido, sobretudo para o povo sem acesso ao conhecimento, às
informações. Nestes aproximados VII
séculos de Capitalismo, o sistema forjou nas sociedades humanas o
individualismo e o consumismo como práticas indissolúveis nas relações sociais.
Estas características perpetraram uma sociedade proprietária, com grande
concentração de riquezas nas mãos das elites econômicas e políticas, a formação
do Estado gerenciador das disparidades de bens e o aprofundamento das diferenças
de classes.
No Brasil, esta dura
realidade sempre foi aguda. A partir da década de 1980, com o processo de redemocratização
(Fim da Ditadura Militar), as massas voltam às ruas, os sindicatos se
reestruturam, movimentos eclesiais de base recrudescem, os partidos políticos
são legalizados, o movimento ‘Diretas Já’ ganha as ruas e acontecem eleições diretas
para todos os níveis federativos, enfim LIBERDADE DE EXPRESSÃO.
Em 1989, tivemos a 1ª
eleição direta para Presidente da República – em dois turnos depois do Regime
Militar. Fernando Collor foi eleito, mas
1 ano e 9 meses depois sofreu um processo de impeachment. Nunca antes na
História do Brasil vimos a TV Globo cobrir manifestações públicas, passeatas de
estudantes pedindo ‘Fora Collor’, depois da saída, assume o ‘Topete’ Itamar
Franco. Ah! Foram anos tortuosos de grande instabilidade. Em 1994, a disputa
FHC x LULA dera a vitória ao primeiro, ao neoliberalismo e ao tecnicismo na
Educação (Universidades Federais e Escolas Técnicas sucateadas), portanto, não
notamos avanços em todo processo educacional. Em 1998, o processo eleitoral se
repetiu, FHC foi reeleito. Mas, em 2002, LULA foi eleito Presidente, oriundo
das massas trabalhadoras, metalúrgico, homem do povo sofrido sabia da
necessidade de mudança na concepção educacional e aí, sua equipe no MEC implementou
as mudanças que permitiram o aumento do acesso ao ensino Universitário.
Neste período, década de
80 e inicio dos anos 90, popularizou-se um instrumento sócio-político
includente que preparava filhos de trabalhadores e trabalhadoras para entrar
nas Universidades públicas, mais também fazia o debate pra cidadania, eram os Cursinhos Populares. Em Belém: no
Jurunas – a COBAJUR; no Acampamento – Centro Comunitário São Benedito; na
Pedreira – Igreja Metodista; na Terra Firme – Cursinho Alternativa; na UFRA e
outros no Benguí, em Americano (Santa Isabel). Daí pra outras cidades como
Abaeté, Igarapé-Miri, Cametá, Salinas. Hoje, temos uma verdadeira ‘onda’ de
Cursinhos Populares pelo Pará, particularmente no Nordeste paraense onde atuo,
destacamos: Salinópolis sob a liderança do Professor Rocha Netto – o Projeto
Aluno Vencedor existe havia 8 anos; Augusto Corrêa, a Professora Romana Reis,
hoje Prefeita, prossegue o Cursinho Popular iniciado a alguns anos atrás; em
Santa Luzia do Pará, sob a liderança do Professor Edson Farias – experiência está
no 3º ano; em Tracuateua; em Bragança, o Prefeito Pe Nelson, através da
Coordenadoria da Juventude já lançou a iniciativa em parceria com IFPA, UFPA e
outros. Todos estes Projetos trabalham com Professores voluntários, parceiros e
colaboradores e os resultados são expressivos. Observe que este formato nada tem
a ver com os Cursinhos que alguns Prefeitos estão implementando, como é o caso
do Prefeito de Salinas que contratou o Colégio Sophos e as aulas são realizadas
no Auditório de um Hotel!!!!!!
Bom, neste cenário dos
últimos 10 anos, com o aumento dos investimentos no ensino superior, com os
programas de acesso e as cotas, a realidade está mudando a vida dos mais
carentes e os Cursinhos no formato Popular ocupam papel fundamental! Notamos o
aumento do acesso ao ensino universitário de alunos pobres, muito pobres, pois
o primeiro critério para participar dos Cursinhos é pertencer a Famílias de
baixa renda. Vendedores de bombons, como é o caso do Magrão aluno do Projeto
Aluno Vencedor em Salinas aprovado em Licenciatura em Física na UFPA, ou do
Carlos, Vigia concursado do Estado em Augusto Corrêa aprovado em Licenciatura
em História na UFPA (Bragança). Estes anônimos de hoje, serão protagonistas do
amanhã, serão os agentes de transformação da sociedade, retornarão para suas
cidades graduados, consciente da importância do exercício pleno da cidadania e
serão multiplicadores. É nisso que acreditamos, é a solidariedade que nos
alimenta, pois, um novo mundo é sim, possível.
* Ronaldo Campelo é Professor de História, com
20 anos de atuação no Magistério regular, Vestibulares, Educação Popular,
militante das causas sociais, também é Técnico em Planejamento e Projetos.
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