domingo, 14 de abril de 2013

OS CURSINHOS POPULARES




Ronaldo Campelo*
                      A organização de uma sociedade depende do nível de atuação e consciência do seu povo, também nos lembremos do inconsciente coletivo que determina a participação das massas nos processos de transformação social. Estas possibilidades desvendam um universo até então desconhecido, sobretudo para o povo sem acesso ao conhecimento, às informações.  Nestes aproximados VII séculos de Capitalismo, o sistema forjou nas sociedades humanas o individualismo e o consumismo como práticas indissolúveis nas relações sociais. Estas características perpetraram uma sociedade proprietária, com grande concentração de riquezas nas mãos das elites econômicas e políticas, a formação do Estado gerenciador das disparidades de bens e o aprofundamento das diferenças de classes.
                      No Brasil, esta dura realidade sempre foi aguda. A partir da década de 1980, com o processo de redemocratização (Fim da Ditadura Militar), as massas voltam às ruas, os sindicatos se reestruturam, movimentos eclesiais de base recrudescem, os partidos políticos são legalizados, o movimento ‘Diretas Já’  ganha as ruas e acontecem eleições diretas para todos os níveis federativos, enfim LIBERDADE DE EXPRESSÃO.
                      Em 1989, tivemos a 1ª eleição direta para Presidente da República – em dois turnos depois do Regime Militar.  Fernando Collor foi eleito, mas 1 ano e 9 meses depois sofreu um processo de impeachment. Nunca antes na História do Brasil vimos a TV Globo cobrir manifestações públicas, passeatas de estudantes pedindo ‘Fora Collor’, depois da saída, assume o ‘Topete’ Itamar Franco. Ah! Foram anos tortuosos de grande instabilidade. Em 1994, a disputa FHC x LULA dera a vitória ao primeiro, ao neoliberalismo e ao tecnicismo na Educação (Universidades Federais e Escolas Técnicas sucateadas), portanto, não notamos avanços em todo processo educacional. Em 1998, o processo eleitoral se repetiu, FHC foi reeleito. Mas, em 2002, LULA foi eleito Presidente, oriundo das massas trabalhadoras, metalúrgico, homem do povo sofrido sabia da necessidade de mudança na concepção educacional e aí, sua equipe no MEC implementou as mudanças que permitiram o aumento do acesso ao ensino Universitário.
                      Neste período, década de 80 e inicio dos anos 90, popularizou-se um instrumento sócio-político includente que preparava filhos de trabalhadores e trabalhadoras para entrar nas Universidades públicas, mais também fazia o debate pra cidadania, eram os Cursinhos Populares. Em Belém: no Jurunas – a COBAJUR; no Acampamento – Centro Comunitário São Benedito; na Pedreira – Igreja Metodista; na Terra Firme – Cursinho Alternativa; na UFRA e outros no Benguí, em Americano (Santa Isabel). Daí pra outras cidades como Abaeté, Igarapé-Miri, Cametá, Salinas. Hoje, temos uma verdadeira ‘onda’ de Cursinhos Populares pelo Pará, particularmente no Nordeste paraense onde atuo, destacamos: Salinópolis sob a liderança do Professor Rocha Netto – o Projeto Aluno Vencedor existe havia 8 anos; Augusto Corrêa, a Professora Romana Reis, hoje Prefeita, prossegue o Cursinho Popular iniciado a alguns anos atrás; em Santa Luzia do Pará, sob a liderança do Professor Edson Farias – experiência está no 3º ano; em Tracuateua; em Bragança, o Prefeito Pe Nelson, através da Coordenadoria da Juventude já lançou a iniciativa em parceria com IFPA, UFPA e outros. Todos estes Projetos trabalham com Professores voluntários, parceiros e colaboradores e os resultados são expressivos. Observe que este formato nada tem a ver com os Cursinhos que alguns Prefeitos estão implementando, como é o caso do Prefeito de Salinas que contratou o Colégio Sophos e as aulas são realizadas no Auditório de um Hotel!!!!!!
                      Bom, neste cenário dos últimos 10 anos, com o aumento dos investimentos no ensino superior, com os programas de acesso e as cotas, a realidade está mudando a vida dos mais carentes e os Cursinhos no formato Popular ocupam papel fundamental! Notamos o aumento do acesso ao ensino universitário de alunos pobres, muito pobres, pois o primeiro critério para participar dos Cursinhos é pertencer a Famílias de baixa renda. Vendedores de bombons, como é o caso do Magrão aluno do Projeto Aluno Vencedor em Salinas aprovado em Licenciatura em Física na UFPA, ou do Carlos, Vigia concursado do Estado em Augusto Corrêa aprovado em Licenciatura em História na UFPA (Bragança). Estes anônimos de hoje, serão protagonistas do amanhã, serão os agentes de transformação da sociedade, retornarão para suas cidades graduados, consciente da importância do exercício pleno da cidadania e serão multiplicadores. É nisso que acreditamos, é a solidariedade que nos alimenta, pois, um novo mundo é sim, possível.
*  Ronaldo Campelo é Professor de História, com 20 anos de atuação no Magistério regular, Vestibulares, Educação Popular, militante das causas sociais, também é Técnico em Planejamento e Projetos. 

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